terça-feira, 22 de dezembro de 2020

 Estava rodando por aí e constatei que se existe um povo foda é o paraense, em tudo, na poesia, como o incomparável Ruy Barata, na culinária, nesse assunto não vou citar nome de ninguém porque aí é humilhação, na musica nem se fala. Mas a postagem mesmo é pra falar sobre musica mesmo, ou melhor, pra falar de quem conhece musica. Tempo atrás em uma reportagem em um dos jornais locais, quando o jornal ainda tinha espaço para falar de alguma coisa que preste e que não era sobre morte, roubo, corrupção e etc., eis que surge uma sensacional matéria sobre o nosso querido amigo Max Alvim , o mestre dos magos dos discos de vinil de Belém, do norte e quiçá do Brasil ou do mundo. Max com sua mastodôntica cultura musical foi perguntado sobre os discos mais raros e importantes, na mesma hora, sem pestanejar ele dispara algo que ninguém imaginava, a bem da verdade, a plebe rude não imaginava, porque não conhecia, pois bem, o velho Max afirma a plenos pulmões que o disco mais importante é o Guilherme Coutinho e a Curtição, lançado em 1969. No disco Guilherme se faz acompanhar por ninguém menos que Tangerina, no contrabaixo, Fernando na bateria e o sensacional e inigualável Walter Bandeira. Entusiasmado pela musica e pela mídia de vinil como sou, corri para meu estúdio, pois sabia que esse disco estava entre os mais de....(não sei quantos discos eu tenho) e depois de uma cansativa procura, encontrei o dito cujo, coloqueio-o no toca disco e logo de cara escutei um dos hits da época em que minha adorável mãe ainda era mocinha e rebolava na boate da sede social da Assembleia Paraense escutando o swing da baladinha chamada "Curtição". Um viajem no tempo e no espaço me veio imediatamente na cabeça, mais uma vez confirmei a minha afirmação, o paraense é foda. Na foto a reportagem do amigo Max, a capa do disco do inesquecível Guilherme Coutinho e a musica para você alegrar seu sábado.https://youtu.be/_WboOK8X_NU






O segundo disco do Guilherme Coutinnho lançado em 1971.




Sobre o single "No Clause 28", tenho para vocês uma história pra lá de interessante sobre essa musica. Hoje em dia uma das pautas, principalmente da esquerda no Brasil, é falar em homofobia, em discriminação dos homossexuais, mas o que rola por aqui é fichinha do que acontecia em plena década de 80 na Europa. Em 24 de maio de 1988 foi publicada a Seção 28 ou Clause 28, que disciplinava expressamente: "não deve intencionalmente promover a homossexualidade ou publicar material com a intenção de promover a homossexualidade" ou "promover o ensino em qualquer escola mantida da aceitabilidade da homossexualidade como um pretenso relacionamento familiar", tudo isso rolando no Reino Unido (Inglaterra, País de Gales e Escócia). Essa lei deu o que falar, pois a partir de então se instaurou uma verdadeira guerra entre o público gay, ainda não existia essa história de LGBT, e as camadas mais conservadoras da sociedade inglesa, principalmente religiosa. A tal cláusula 28 foi revogada em 2000 depois de muita confusão. Para variar, falar nesse negócio sempre era objeto de polemica, então o pra lá de polêmico Boy George, então ex-vocalista da banda Culture Club, gay e andrógino assumidíssimo, de corpo e alma, meteu ficha e fez essa musica de protesto contra a tal "Clause 28". A Seção 28 foi finalmente revogada pela Lei das Normas Éticas na Vida Pública do Reino Unido em 21 de junho de 2000, causando finalmente paz na bicharada inglesa. A musica fala de tudo, discriminação, AIDS, protesto e tudo mais, o cara meteu o bicho e a musica se tornou uma das mais tocadas nas boates inglesas, que diga-se de passagem, não tinha esse negócio de botea gay, por lá era tudo misturado e salve-se quem puder. Uma das cenas legais desse história toda foi que as lésbicas, que normalmente são menos propensas ao dialogo e partem logo para porrada, invadiram o gabinete de um dos membros da Câmara dos Lordes com o proposito de meter ficha no cara, se conseguiram ? Não sei. kkk. Pra você a versão original. https://youtu.be/MI0tZjH06BQ





Encerrando suas atividades depois de mais de 100 anos voltados para educação, o Colégio Moderno possui uma longa história de conquistas e resistência. Muita gente nem imagina, mas foi o Colégio Moderno a primeira instituição de ensino no Pará a unir meninos e meninas em uma mesma sala de aula, quando ainda era tradição separar os sexos. Iniciou suas atividade como curso preparatório para prova de admissão no então Ginásio Paraense, que depois viria a se chamar o conhecido Colégio Estadual Paes de Carvalho. Passando por vários endereço, somente em 1938 é que definitivamente se instalou no endereço que todos conhecem.



Com bastante pesar que em 22 de dezembro de 2018 tive a noticia, triste noticia, de que o meu colégio, àquele que contribuiu com minha formação, fecha definitivamente suas portas. Fundado em 1914, o Colégio Moderno tornou-se referência em ensino no Pará, passando por várias administrações, encerra suas atividades depois de 105 anos de tradição e bons serviços.






segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

 Uma crônica legal sobre a noite de Belém extraída do blog Belém90: "A partir do centro de Belém, feito aqueles mapas do tesouro, poderíamos traçar uma mina, digo (e não estava me referindo ao solo do Afeganistão, pois aí iríamos pelos ares), traçar um roteiro etílico (contanto que não nos obriguem a fazer um 4) até o ponto mais distante, já na BR. Bem comportada, com estacionamento facilitado à porta, a noite poderia começar, sortida (restaurante, churrascaria, pizzaria, choparia), no Pappus, onde funcionava, no mesmo endereço, Conselheiro Furtado 627, o Chico's. Diariamente, desfrutava-se de jantar dançante com música ao vivo". Do Pappus era emendar para o Gato & Sapato, “boite e drinks”, na Doca: “sexta e sábado (seresta) e aos domingos pipoca dançante”. Por um erro de impressão, onde era para sair “curta toda a sua juventude", saiu "custa toda a sua juventude". Da perspectiva de hoje, o errosoa atual, coerente, premonitório, o certo por linhas tortas.

Em vez de seguir em frente no roteiro, rumo à saída da cidade, alguns talvez escolhessem retroceder, fosse sexta ou sábado, e ouvir trinados dos nossos rouxinóis na La Cage, "a mais sofisticada e elegante casa noturna de Belém", situada na travessa Piedade, entre Henrique Gurjão e Tiradentes. Daria, numa mesma noite, para ouvir a santarena Maria Lídia e o conjunto Novotempo, com o auxílio luxuoso da participação de Walter Bandeira. Claro que o couvert artístico, nessas duas noites, era mais caro que nos demais dias da semana, com exceção da segunda, dia de descanso.
E no tempo em que a avenida Nazaré ainda descia (ou vice-versa), no tempo, enfim, em que a mão era de la para cá e não de cá para lá (ou vice-versa?), o Plaza's, “em frente ao Largo de Nazaré”, era um ponto tradicional da turma mais conservadora. O que não era bem o caso, numa outra extremidade da cidade, do K-verna Drinks, na Senador Lemos, movido à “música mecânica". Restaurante e boate, o K-verna (e o brucutu à porta não causa a melhor das impressões) era mais “uma organização Oscarina N. da Silva".
Na mesma Senador Lemos, mais acima, “próximo a Gelar”, a tradicional fábrica de picolé de Belém, sorvida pela Kibon, para quem quisesse forrar antes o estômago, havia O Regatão. Com seu anúncio de proa de barco a saudar o navegante, muita água rolou sob o tombadilho do bravo mascate culinário. A comida, se bem me lembro, não era das piores, pelo menos sua recordação não me traz uma azia fora de hora, fora de lugar, idéias fora do lugar, diríamos, mas aí já é outro capítulo.
Mas se o almoço, ou jantar, sossegado, embalado em águas calmas, fosse, efetivamente, uma idéia fora do lugar, a onda da hora era juntar modismo, gente bonita e ambiente animado (com direito à porrada), como no Chopp Haus. Ancorada no Entroncamento, a casa oferecia “restaurante, almoço e jantar, chope, frios, queijos, vinhos, drinks e boliche". A propósito, lembra o final da peça publicitária: "Você conhece idéia melhor?" (No entanto, as referências ao Chopp Haus saíram das colunas de agito dos jornais e foram parar nas páginas policiais, por conta da repercussão de assassinato envolvendo um casal de namorados de nossa melhor sociedade, ele, parece, a matou, no carro, estacionado na rua, na Doca de Souza Franco?, por ciúme, por ameaça de abandono, qualquer coisa assim; antes, na falta de idéia melhor, o casal passara no Chopp Haus, onde fora visto e festejado, daí a casa noturna ter sido incluída no roteiro do crime. Foi por aí).
Bem, para quem já estava no Entroncamento, e na falta de outra idéia melhor, melhor seguirem frente, pela BR-316, até seu km 3, até o então célebre Gemini Drive-in. Era um dos pontos preferidos de nossa jeunesse dorée, dos jovens universitários, o “local mais 'in'de Belém", onde se era convidado a “viver momentos de alegria e descontração".
A casa comportava dois ambientes. No Gemini Grill, pontificavam o “churrasco, galeto e pizzas feitas em forno a lenha por um expert vindo especialmente de São Paulo". Já o Gemini Chopp proclamava ter “o melhor chope da cidade". Nas sextas e sábados, o ingresso, a Cr$ 350,00, dava "direito a uma mini-pizza ou a um chope".
O Gemini era tão conhecido que servia de referência a outras casas noturnas. O Night Club Twist, por exemplo, situado na passagem São Pedro, BR-316, km 4, anunciava que o melhor caminho para se chegar ao local era pela “entrada ao lado do Gemini”, com a ressalva de que o carro do cliente pegaria uma “estrada boa".
O Twist prometia animação mais quente, caliente. “Shows variados, todas as sextas e sábados, como streptease (sic), travesti, transformista, bailarino, dança etc.". Como as demais congêneres, não deixava por menos, ignorando o sábio provérbio, elogio em boca própria é vitupério. Dizia-se o “melhor ambiente e melhor casa de show de Belém". Para atrair a freguesia, prometia "duas cervejas grátis para cada mesa para quem chegar até 1.000 hora". "1.000 hora"? Pois é assim mesmo que está na propaganda, pode conferir. Seria para quem chegasse a mil por hora? Ou estava-se querendo dizer "até uma hora da manhã"?
Pronto, fim de noite - que, aliás, era o nome de um bar do Alencar, embrião do Lapinha. Outros tantos roteiros poderiam ser traçados. Lembro, assim, de cabeça, da Adega do Rei, do JB-7, Garagem, La Bodega, Primavera, Sozinhos Bar, Biriba, 3/4, Avec, Casa de Chá Corumbá, Guinzas, Maloca, Maracaibo, Palhoça, Papa Jimmi, Pigalle, Porão, Planeta dos Anjos, Pussanga, Signos, Tapera, Tonga. Já sinto saudades até da Choperia Pingüim, aquela mesma, no segundo andar do Iguatemi. Se você quiser, monte seu próprio roteiro e mande. Fiz com esses bares, que nem eram meus preferidos, por dispor de recortes de seus anúncios. Se quiser, se você for jovem, pode até mandar o seu roteiro atual ao longo da noite. Já fica para a história."



 Quem viveu nos idos dos anos 80 e 90 sabe muito bem que o point dos notívagos da Cidade das Mangueira tinha como eixo principal a outrora Avenida 22 de Junho, atualmente chamada de Alcindo Cacela. A dita via pública foi aberta no final do século XIX fazendo a ligação da cidade com o forno crematório de incineração do lixo, fazendo com que surgisse o atual bairro da Cremação, posteriormente a via se estendeu até onde hoje é a praça Princesas Isabel para dar acesso ao embarque e desembarque dos hidroaviões da empresa Condor Aviação, o que acabou por ser a origem do nome do bairro da Condor. Mas andando para frente no tempo, a tal Avenida 22 de Julho começava no bairro da Pedreira e era justamente ali que começava o tour de force daqueles que estavam predestinados a curtir a noite até os primeiros raios solares. O périplo no bairro da Pedreira começava com as boates Estrelinha, Pedreiras Bar, Shagri-la e Zidanei, descendo a já Alcindo Cacela o viajante poderia tomar caminhos alternativos que lhe levavam para outra paragens noturna, se seguisse reto e ereto ia se defrontar com o antológico Maracaibo, Rampa, Crocodilo, Pagode Chinês, Benzinho, Castelinho, Jardineira, Tapera, Tic Tac, encerrando assim a sua tour no bairro da Cremação. Uma pausa para respirar e olhar para os lados para escolher qual a opção, se fosse em frente ira para o centro da enturage noturna belenense, se olhasse para direita ia bater direto no bairro da Campina se defrontando com o Biriba e suas batidas de cachaça com frutas, Bar do Parque, Borboleta, Bataclã da Madame Fernanda, Canecão, Canto do Uirapuru que salvo engano depois se chamou de Garrafão, Carmona, Cascatinha, Cosa Nostra Danúbio, Elli Erri, Flórida, Galo, Império, Long Beath, Madame Biby, Madame Zéze, Night And Day, Play Boy, Sambar, Selva, Stadiu, Papa Dimi e a Maloca ainda na praça de República, porém o nosso andarilho poderia optar para entrar no "triangulo das Bermudas!", como dizia o Natal Jordão em seu livro, podia meter o pé e ir direto para Condor e encarar o Aldeia, Palácio do Bares, Bolero, Cabaré da Cotinha, Cabaré da Margot, Cabaré da Tia Maria, Juvenil, O Lapinha, Mangal do Patesko, Neguinho, Recinto Oriental, Royal, São Jorge e o The Pink Panter. Eita, deixa eu dar uma parada que até eu já estou cansado. Na foto o velho Pagode Chinês.




 Nos anos 50 em diante a cidade já tinha um considerável número de clubes que organizavam grandes bailes, como era o caso do Bancrevea, Jóquei Clube, Pará Clube, Assembleia Paraense, Clube do Remo etc., clubes esses destinados a uma faixa da população mais privilegiada economicamente. Embora existisse e suposto privilégio, a rapaziada antes de ir para essas baladas mais sociais tinham que dar um passada no então chamado "Triângulo do Bares", ou seja, aquela área em que se localizavam os três bares mais populares da época do bairro da Campina: o Bar Biriba na Carlos Gomes com a antiga Bailique hoje chamada de Ferreira Cantão, o Bar Primavera também na Carlos Gomes próximo a 1o de Março e o Bar do Parque que dispensa apresentações. A bem da verdade, os "finos" que iam para os clubes frequentados pela fina flor da sociedade belenense, eram um bando de lisos e para já entrar turbinados nos clubes tinham que fazer um pit stop em um desse três bares, principalmente o Birita, local em que vendia uma batida de fruta com cachaça que arrepiava até o fiofó, ou a velha cuba libre com refrigerante de cola. Quem optava pela batida tomava também uma Cerpona no vácuo para pressão ser maior e aí já estava preparado para batalha que vinha pela frente. Esses bailes realizados nos clubes tinham um grande problema, acabavam ás 02:00 da matina, justamente no momento em que o cara estava no auge da liga, então o remédio era continuar na onda seguindo para Condor indo direto para o Palácio do Bares, porém ali o negócio era outro, mas depois em conto esse parte.